sábado, 17 de setembro de 2005

Os Portais do Paraíso (37)

O Orgulho do Samurai

Paraíso e inferno não são locais geográficos, são psicológicos, são a sua psicologia. Paraíso e inferno não estão no final de sua vida, estão aqui e agora. A cada momento as portas se abrem, a todo momento você fica ondulando entre o paraíso e o inferno. É uma questão de momento-a-momento, é urgente, em um único momento você pode mover-se do inferno para o paraíso, do paraíso para o inferno.
Ambos estão dentro de você. Os portões estão bem próximos um do outro: com a mão direita você pode abrir um, com a mão esquerda você pode abrir o outro. Basta uma simples mudança na sua mente, seu ser se transforma. Do paraíso para o inferno e do inferno para o paraíso. Sempre que você age inconscientemente, sem percepção, está no inferno. Sempre que você está consciente, quando você age com plena atenção, está no paraíso.

Subitamente, quando Hakuin disse: "Aí está o portal, você já o abriu", a própria situação deve ter despertado a percepção do Samurai. Um único momento a mais e a cabeça de Hakuin teria sido cortada. E Hakuin disse: "Esse é o portal do inferno." Não foi uma resposta filosófica, pois nenhum mestre responde em termos filosóficos. A filosofia existe apenas para as mentes medíocres e não-iluminadas. O mestre responde, mas a resposta não é verbal, ela é plena. O fato de que aquele homem poderia tê-lo morto não é o mais importante. "se você me matar, e isso o tornar alerta, perceptivo, então vale a pena." Hakuin apostou nisso. Eis o que deve ter acontecido com o guerreiro - parado, com a espada na mão, Hakuin à sua frente - e não havia rido nos olhos de Hukuin, seu rosto estava sorridente, e os portais do paraíso se abriram. Ele entendeu: a espada retornou à bainha. Ao colocar a espada de volta, ele deve ter entrado em silêncio total, cheio de paz. A raiva havia desaparecido, a energia que se movia na raiva havia se tornado silêncio. Se você de repente se tornar perceptivo no meio da raiva, sentirá uma paz que nunca sentiu antes. A energia estava se movendo e, subitamente, pára. Você encontrará o silêncio, o silêncio imediato. Cairá em seu ser interior e a queda será tão repentina que você se tornará perceptivo. Não é uma queda lenta, é tão abrupta que você não pode deixar de se tornar perceptivo. Só é possível permanecer não-perceptivo com coisas rotineiras, com coisas graduais, quando você se move tão lentamente que não pode sentir o movimento. Isso foi um movimento súbito, passando da atividade para a não-atividade, do pensamento para o não-pensamento, da mente para a não-mente. Enquanto recolocava a espada em sua bainha, o guerreiro compreendeu. E Hakuin disse: "Aqui se abrem as portas do paraíso." O silêncio é a porta. A paz interior é a porta. A não-violência é a porta. O amor e a compaixão são as portas.

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