quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Devoção (56)

A Dança do Templo de Meera

A devoção é uma forma de unir-se e fundir-se com a existência. Não é uma peregrinação. Significa apenas perder todos os limites que separam você da existência. É uma relação amorosa. O amor é a união com um indivíduo, uma intimidade profunda entre dois corações, tão profunda que os dois corações começam a dançar na mesma harmonia. Ainda que os corações sejam dois, há uma única harmonia, uma única música, uma única dança. Assim como falamos do amor entre duas pessoas, falamos da devoção entre um indivíduo e toda a existência. Ele dança nas águas do oceano, ele dança nas árvores que dançam ao sol, ele dança com as estrelas. Seu coração responde à fragrância das flores, à canção dos pássaros, aos silêncios da noite. A devoção é a morte da personalidade. Por sua própria vontade, você abandona aquilo que é mortal em você. Resta apenas o imortal, o eterno, aquilo que não morre jamais. E aquilo que não morre não pode ser separado da existência - que também não morre, está sempre indo, não conhece início nem fim. A devoção é a maior forma de amor.

Jesus disse uma vez: "Deus é amor." Se tivesse sido escrito por uma mulher, ela teria dito: "O amor é Deus." Deus deve ser secundário, é uma hipótese mental. Mas o amor é uma realidade que pulsa em cada coração. Ao longo da história, encontramos pessoas como Meera. Mas só mulheres extremamente corajosas seriam capazes de se libertar de um sistema social repressivo. Ela pôde fazer isso, pois era uma rainha, ainda que sua família tenha tentado matá-la porque ela dançava nas ruas. A família não podia tolerar isto. Sobretudo na Índia, onde as mulheres são muito oprimidas. E uma mulher tão bela quanto Meera, dançando nas ruas e cantando... Havia um templo em Vrindavan, onde Krihna havia morado. Construíram um grande templo em sua memória e, nesse templo, não podiam entrar mulheres. Elas só podiam ficar do lado de fora, no máximo tocar as escadas do templo. Nunca haviam visto a estátua de Krishna que ficava lá dentro, pois o sacerdote era muito inflexível. Quando Meera veio, o sacerdote ficou preocupado que ela entresse no templo. Dois homens, com espada à mostra, foram colocados na frente do portão para impedir que Meera entrasse. Mas quando ela veio - e pessoas assim são raras, uma brisa tão perfumada, uma dança tão bela, uma canção que coloca em palavras aquilo que não pode ser dito em palavras - esses dois homens se esqueceram do que estavam fazendo ali e Meera entrou dançando no templo. Era a hora em que o sacerdote rezava para Krishna. Seu prato, cheio de flores, caiu no chão quando ele a viu. Ele estava absolutamente irritado e disse a ela: "Você quebrou uma regra de centenas de anos. "Ela respondeu: "Que regra?"O sacerdote disse: Nenhuma mulher pode entrar aqui."E vejam a resposta... Isso é coragem. Meera disse: "Então como você entrou aqui? A não ser por um único - aquele que é o supremo, o amado -, todos os outros são mulheres. Você acredita que há dois homens no mundo: você e o supremo? Não diga bobagens." Ela certamente tinha razão. Uma mulher de grande coração olha para a existência como um amado. E a existência o é.

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