domingo, 11 de setembro de 2005

Meditação do Dia 10.09.2005

DESPRENDIMENTO (31)
Hakuin e o recém-nascido

Continue a sentir algo dentro de você que seja o mesmo não importa o que aconteça na periferia. Quando alguém o insultar, concentre-se até o ponto onde você fica apenas escutando-o - nada fazendo, sem reagir, apenas escutando. Ele está lhe insultando. E depois alguém está lhe elogiando - apenas escute. Insulto ou Elogio, honra ou desonra, apenas escute. Sua periferia ficará perturbada. Olhe também para isso, mas não tente mudar. Apenas olhe mantendo o seu centro, olhando dalí. Você terá um desprendimento que não é forçado, o qual é espontâneo, natural. E uma vez que você tenha sentido esse distanciamento natural, nada mais poderá lhe perturbar.

Numa aldeia onde o grande mestre Zen Hakuin vivia, uma moça ficou grávida. O pai dela maltratou-a para saber o nome do amante dela e, finalmente, para escapar da punição, ela disse a ele que era Hakuin. O pai não disse mais nada, mas quando chegou a hora e a criança nasceu, ele imediatamente levou o bebê até Hakuin e o pôs a seus pés. “Parece que essa criança é seu filho,” ele disse, e depois descarregou insultos e seu desprezo na desonra que aquilo representava.
Hakuin apenas disse, Oh, é mesmo?” E pegou o bebê nos seus braços. Onde quer que ele fosse, ele levava o bebê, envolto nas mangas de seu quimono esfarrapado. Durante os dias chuvosos e noites tempestuosas ele saia para pedir leite nas casas vizinhas. Muitos de seus discípulos, considerando-o fracassado, se voltaram contra ele e o deixaram. E Hakuin não disse uma palavra.
Enquanto isso, a mãe achou que ela não podia suportar a agonia da separação de seu filho. Ela confessou o nome do verdadeiro pai, e o próprio pai dela foi até Hakuin e prostou-se diante dele, suplicando por perdão. Hakuin apenas disse, “Oh, é assim?”, e devolveu-lhe a criança.
Para o homem comum o que os outros dizem é muito importante, pois ele nada possui dele mesmo. Não importa o que pensam ser, não passam de opiniões das outras pessoas. Alguém disse: Você é bonito. Alguém disse: você é inteligente. E a pessoa vai acumulando todas essas opiniões. Daí ele ficar sempre assustado e não deve comportar-se de certa maneira para não perder sua reputação, respeitabilidade. Ele está sempre com medo da opinião pública, o que as pessoas irão dizer, porque tudo que ele sabe sobre si mesmo é o que as pessoas lhe disseram. Se as pessoas mudarem de idéia, o deixam desnudo. Assim ele não sabe quem ele é, se feio, se belo, inteligente ou tolo. Ele não tem nenhuma idéia, nem mesmo vagamente, de seu próprio ser: depende da opinião dos outros.
Mas aquele que medita não precisa da opinião dos outros. Ele conhece a si mesmo, não importa o que os outros dizem. Mesmo que o mundo inteiro diga alguma coisa que vá contra sua própria experiência, ele irá simplesmente rir. No máximo, essa pode ser a única resposta. Ele, contudo, não irá tomar nenhuma atitude para mudar a opinião das pessoas. Quem elas são? Elas não se conhecem, mas ainda assim tentam rotulá-lo. Ele irá rejeitar os rótulos. Ele simplesmente dirá, “Sou aquilo que sou, e é desse jeito que vou ser.”

1 comentário:

Anónimo disse...

Ando a dar uma volta por blogues cujos autores se localizem em Sintra. De todos os que já visitei, este é o terceiro onde deixo mensagem.

Muito interessante, a meditação de ontem.

Hei-de voltar para ler as Palavras... Apenas... e Só... e meditar sobre as mensagens que as palavras transportam.