quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Estava eu sentado perto do mar



Estava eu sentado, perto do mar, a ouvir com pouca atenção um amigo meu que falava arrebatadamente de um assunto qualquer, que me era apenas fastidioso. Sem ter consciência disso, pus-me a olhar para uma pequena quantidade de areia que entretanto apanhara com a mão; de súbito vi a beleza requintada de cada um daqueles pequenos grãos; apercebi-me de que cada pequena partícula, em vez de ser desinteressante, era feita de acordo com um padrão geométrico perfeito, com ângulos bem definidos, cada um deles dardejando uma luz intensa; cada um daqueles pequenos cristais tinha o brilho de um arco-íris... Os raios atravessavam-se uns aos outros, constituindo pequenos padrões, duma beleza tal que me deixava sem respiração... Foi então que, subitamente, a minha consciência como que se iluminou por dentro e percebi, duma forma viva, que todo o universo é feito de partículas de material, partículas que por mais desinteressantes ou desprovidas de vida que possam parecer, nunca deixam de estar carregadas daquela beleza intensa e vital. Durante um segundo ou dois, o mundo pareceu-me uma chama de glória. E uma vez extinta essa chama, ficou-me qualquer coisa que nunca mais esqueci que me faz pensar constantemente na beleza que encerra cada um dos mais ínfimos fragmentos de matéria à nossa volta.

Aldous Huxley

2 comentários:

Skywalker disse...

Surpreendemo-nos sempre ao admirar as coisas pequenas, que de pequenas só têm mesmo o tamanho.

Beijokas

Hélio disse...

Há sempre um momento na nossa vida, um momento ínfimo em que a nossa percepção das coisas muda, pois somos postos em perspectiva perante uma realidade/dimensão abissalmente avassaladora, deixando-nos rendidos a essa grandeza. São epifanias, são pontos-sem-retorno. E ainda bem...